domingo, 5 de julho de 2009

O candidato do POVO


Samuca sempre foi um picareta metido a bacana, cheio de ladainha e muito papo furado.Era um picareta de cinco estrelas, de luxo! Não era qualquer um, daqueles que a gente reconhece a olho nu, não senhor.
Ele se fazia de morto, inventando doenças de todo o tipo e tamanho só para não por a mão na massa e mostrar trabalho.Coitadinho, até que tentava, mas tinha um problema que arriava o caboclo na cama.Uma peste que consumia todo o seu corpo, a sua alma, a sua saúde, numa anemia corrosiva que se chamava: preguiça! Desde de moleque não queria nada com nada.
Não movia uma palha pra ninguém e ainda se dizia o “queridinho” da mamãe.Dona Dirce estava no puro osso de tanto trabalhar por um lugar ao sol e fazia o impossível para que o dodóizinho fosse rei em seu próprio mundo! Roupas da moda, tênis importado e um carrinho especial que transformou Samuca num tipinho mimado e egoísta, com uma pose violenta que parecia um artista de novela.Sentia vergonha da casa simples que morava, da sua história humilde feita por gente que se descabelava apenas para lhe ver feliz.
Mas aquele moço engomado não herdou a simplicidade de ninguém e botava a maior panca se vangloriando das coisas que nunca teve, inventando o que nunca aconteceu e se passando por uma pessoa que jamais foi.E você pensa que Dona DIRCE não conhecia os tererês do filho malaco? Claro que enxergava a profundidade das suas mentiras, mas disfarçava para ela mesma, dizendo que um dia o seu menininho danado acordaria diferente.Quase um santo!
Se passasse o dia todo de molho no sofá, só comendo e bebendo, era porque estava fraquinho e precisava se revigorar.Quando passava a noite na gandaia, era para fortalecer os músculos.
E como o mundo inteiro já estava metendo a boca na folga de SAMUCA, Dona Dirce começou a ficar preocupada com sua fama de mala sem alça e resolveu arrumar um bico para o filhote.Um serviço leve e que não lhe arrancasse o couro.Mas, o quê, meu Deus?
- Vendedor, professor, instrutor...Delegado, advogado, candidato...
Candidato do quê? Do povo, claro!
E deste momento em diante a vida de Samuca mudou.Ele fez questão de voltar as próprias raízes, andando com chinelos de dedo e uma calça furada na bunda como que se fosse um Zé Ninguém .
Um andarilho do bem! Um servo do trabalhador!
Que trabalhador, que nada.Ele mesmo nunca tinha martelado um prego e agora se dizia o candidato.
Acabaria com a seca, com a fome...Construiria prédios populares com um lugarzinho privativo aonde o pobre poderia se sentir mais rico, como uma churrasqueira comunitária. E este pacote de presente maravilhoso só tinha um preço.Uma bagatela: o voto.
E daí por diante Samuca era presença marcante nos almoços de domingo, churrasco de batizado e jogo de futebol.Ninguém agüentava mais ver o seu sorriso pregado 24 horas no ar, na sua cara de bobo, sempre a caça de mais um eleitor.Acho que nunca bateu tanta perna, tomou tanto cafezinho e contou tanta piada!
Mas a maior de todas era a sua cara de pau, rindo para os outros, e dos outros.Só que o povo já estava vacinado contra esta doença corrosiva que impregna a nossa sociedade.Contra a hipocrisia daqueles que ainda acham que um voto, ou seja, uma confiança, se vende em troco de favores pessoais; uma telha velha, um bloco ou um saco de cimentos.O único objetivo da verdadeira razão política é o trabalho que flui de dentro da decência e abrange á todos.
Não é um trabalho apenas da boca para fora, porque ninguém precisa mais de tanto blábláblá.De idéias que têm interesses próprios e benefícios pessoais.
O povo não precisa mais desses falsos trabalhadores que não pensam no bem estar comum da comunidade.E Samuca pulou, esperneou, prometeu mundos e fundos achando que era o Rei do Mocó e quando chegou a sua vez de mandar bronca no pedaço que decepção!
O seu nome só foi lembrado como um filme velho, sem ibope e com certeza, que não vale a pena ver de novo!

Silmara Retti

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