domingo, 12 de julho de 2009

O Presente da Mamãe





















Nem bem clareou o dia, Joana martelava na cabeça do maridão, dizendo que aquele domingo deveria ser especial: o mais encrementado de todos. Justamente porque se tratava do Dia das MÃES , marcado e sacramentado no calendário da sala por um circulo vermelho para que ninguém esquecesse do frango assado e do presentinho no capricho .
Teria que ser o almoço do Século, com toda a família reunida, álbum de fotografias passando de mão em mão e histórias antigas da época do dinossauro .
A avó Etelvina estaria no canto da mesa junto com tia Leonor e a galera da terceira idade, só esperando o momento certo de desenterrar o passado do fundo do baú .
No Dia das Mães valia tudo: Miltinho que nunca se deu com Emílio, Joana que aproveitava a oportunidade para colocar as fofocas em dia , Isabel que metia o pitaco na vida alheia ...
Afinidades talvez não tivessem mais nenhuma, apenas um sentimento de obrigatoriedade que faziam estar presentes ...com presente .
Joana gastou tudo o que tinha e o que não tinha para fazer bonito.Embonecou-se no maior luxo, decorando cada frase de amor que pudesse resumir o significado da palavra mãe em sua vida.Porém como nunca se entenderam , um pacote enfeitado falaria muito mais do que qualquer discurso .Tava tudo combinado: enquanto Emílio se bronzearia na churrasqueira, Joana deixaria a mesa posta com a maionese e a farofa, o pãozinho torrado e um sambinha de fundo .E foi exatamente assim ...
O almoço foi maravilhoso , apesar dos assuntos serem os mesmos do ano passado:
- a reforma da casa, o consórcio do carro, a compra do terreno em Santos ...
Lá se foi mais um domingo do Dia das Mães e de madrugada, enquanto Emílio tentava dormir sossegado, começou a lembrar-se daquele tradicional almoço com toda a sua família reunida.Lembrou-se da infância simples, da sua mãezinha humilde , do arroz com feijão feito com muito carinho e de repente lhe caiu a ficha :
- Dona Jacira não estava mais entre eles .Há quanto tempo, meu Deus !Desde que ele, ainda jovem, havia discutido em casa e ido embora dali , se remoendo de tanta mágoa .Aonde estaria aquela mulher forte, que sendo pai e mãe ao mesmo tempo, conseguiu lhe dar o melhor de si ...Ela não estava no tão glorioso almoço do Dia das Mães, porque talvez nem soubesse mais que era o seu dia .
Emílio não conseguiu dormir e sem dizer uma palavra a ninguém deixou um bilhete na cabeceira da cama de Joana, explicando-lhe que não tinha mais sentido passar o segundo, terceiro ou quarto domingo do mês longe de sua mãe .
Foi quando dona Jacira, com muita dificuldade, ouviu passos no quintal, abrindo a janela da rua para enxergar melhor .Assim pode ver de perto o rostinho de menino de Emílio, voltando para seu colo como que se nunca houvesse partido daquela casa .
O seu coração ficou em festa porque aquele era o momento mais esperado de sua vida ; um Dia das Mães atrasado, porém comemorado com muita emoção junto ao seu melhor presente .
Silmara Torres Retti

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