domingo, 12 de julho de 2009

Santo de Casa não faz milagres!





















Sabe aquele papo furado de beira de boteco, que o palhaço já mamado, esnoba a peladona da Playboy, como se ela fosse a sua amada amante? Pois é . Geraldino estava ali na roda, petiscando uma moela de frango enquanto contava vantagem , dizendo que eram duas, três e até cinco mulheres por noite! E olha que nunca precisou de nenhum tempero extra, hei. Nada de ovo de codorna ou qualquer urucubaca do gênero.
Então os camaradas arregalavam os olhos e queriam saber detalhes do ocorrido.E a cunhada? Também já foi pro saco.E a vizinha da frente? Virou freguesa de carteirinha.Nisso a galera delirava, acreditando que Geraldino era um esfomeado e que não perdoava nem a galinha de estimação.
Mas o que Zenaide achava desta gula toda, hein? Opa, deixa a dona Zenaide fora disto. Era a sua patroa, mãe de seus filhos e devota de Padre Cícero.Rezava dia e noite, pedindo pra chover ou para fazer sol, para crescer o bolo e até para que Geraldino ficasse bem longe da cama de casal. Será que ela não gostava daquilo? Eeeeê! Era uma mulher de muito respeito e aquilo não fazia parte de sua vida.Tinha dor de cabeça quase sempre, dormindo com uma calça de brim só para evitar as perturbações. Não eram marido e mulher? Não.Zenaide não era uma mulher, não senhor.Era uma Santa! E com Santa não se brinca, não se toca e não se peca.
Quando a galera começava a perturbar Geraldino com tantas perguntas indiscretas, ele mandava pendurar a conta, fazendo muita força para conseguir chegar em casa e dar de cara com a cara peluda de Zenaide.E que Zenaide, hein.Parecia um armário embutido, com um chumacinho de cabelo amarrado charmosamente por um barbante velho.Pra encarar mesmo, só tomando uma; uma dúzia de cachaça.
Ao ver Geraldino, mais que depressa corria para o tanque, se fazendo de ocupada. Será que aquela pedra de gelo ambulante nunca foi chegada na coisa? Olha só, a imaculada da dona Zenaide não gostava de sexo.Adorava! Era louca para fazer um mexidinho, só que no capricho.Ela queria com direito a beijinho na boca, bituquinha no dedão do pé, cócegas na dobrinha das banhas...Tudo feito com muito carinho, é claro.E assim o sabe-tudo do Geraldino não sabia fazer.Mulher precisa de dengo, carinho e chamego.Não existe mulher fria.Zenaide, de fora para dentro, e de dentro para fora, era a típica mal amada.Sempre bufando, de cara amarrada e com raiva do mundo.E o que faltava para que fosse feliz? Uma boa acordada, daquelas de rachar o teto.Só que Geraldino era poderoso para os outros, porque dentro da própria casa aquele Santo picareta não fazia milagre.
Do lado direito da cama estava Zenaide, murchinha da silva, e do esquerdo, Geraldino, de trombeta amarrada. A cumplicidade na vida do casal é tudo e se não houver amizade, lealdade e companheirismo, baú-bau, já era!
Enquanto Geraldino contava vantagens de bar em bar, a pobre Zenaide passava mal pelos cantos da casa, se consumindo aos poucos com seus desejos reprimidos.Tinha pressão alta, diabetes, artrite, frescurite...Era uma morta viva com dores até no branco do olho. Então ela resolveu tomar a iniciativa e fazer uma surpresinha para o garanhão do pedaço.
Naquela noite, quando Geraldino voltou da rua, não encontrou a mulher nem na pia , nem no fogão.Procura daqui e dali.De repente lá estava ela toda embonecada na cama, vestindo apenas uma camisolinha transparente, pronta para servir o jantar.
Geraldino achou que estivesse tendo uma visão.A Santa Zenaide pirou! Tava toda descabelada, feito um gorila no cio. Queria sexo? Não só isto.Queria sentir-se amada.
E tirando um chicote debaixo do colchão, ordenou que o indefeso do marido fizesse as honras da casa.
-Senta. Dança.Late! – rosnava com os dentes trincados.
Você pensa que Geraldino negou fogo? Que nada.Uma mulher assim; poderosa, decidida e endiabrada merece mesmo uma refeição vitaminada, pois na cama tudo acaba em pizza, feita com muito carinho e regada com um tempero todo especial.

Silmara Retti

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