terça-feira, 28 de julho de 2009

OS OLHOS NÃO MENTEM JAMAIS















Os olhos de uma pessoa refletem de dentro para fora, tudo o que passa no seu interior .Não conseguem disfarçar, enganar ou mentir.E foi diante dos olhos de Jussara que Marinho disse abertamente, escancarando para quem quisesse ouvir:
- Eu nunca te amei. –desabafou.
Era apenas uma moça bonita, inteligente, prendada, mas para ele não passava de uma irmã mais nova, uma tia do interior ou um pé de samambaia. Estava casando-se com ela apenas para não deixar a pobre moça abandonada, com aquele barrigão que cabia muito bem um bebê de sete meses e ainda sobrava espaço para uma macarronada com banana.
Talvez fosse dolorido saber a verdade, assim nua e crua, mas Marinho preferia rasgar o verbo, para que ela não se iludisse.
Antes de juntarem os trapos, a escova de dente e o crediário, ele deixou bem claro que seria tudo pela criança.Jussara assinou embaixo, concordando com cada virgula, mas cheia de “más” intenções.Daquelas de cair a peruca!
Confiava no seu charme e botava a maior fé que com a convivência pintaria um clima romântico.Sabe como é: morando no mesmo teto, dormindo na mesma cama, tirando o mesmo piolho ...BINGO! Marinho estaria no papo .
Jussara armou tudo em secreto.Não que acreditasse que um neném pudesse salvar o seu casamento, mas acreditava piamente que Marinho estava redondamente enganado quando lhe colocou as cartas na mesa daquela maneira impiedosa.Com o tempo mostraria a ele o que na verdade estaria perdendo.
Esperou Maria nascer, sempre na dela, não exigindo nenhum agrado em troca. Dormiam juntos, roncavam juntos e nada mais.
Quando Marinho achou que conhecia Jussara de fio a pavio, ficou pasmo ao perceber que não era somente aquela mulher azarada que engravidou dele e não agradou .Jussara era muito além desta zica do destino, mostrando-se uma Super Mãe ao zelar da pequena Maria como um anjo da guarda.
Marinho se via encantado, só de butuca, no jeito amoroso que ninava a criança em seus braços.E durante o seu tempo livre cuidava da casa e de si mesmo; não tinha como pagar uma academia de ginástica, mas caminhava na praia.Não tinha comprar livros caros, mas freqüentava a Biblioteca do seu bairro.Jussara era inteligente e sabia aproveitar as opções que tinha nas mãos.Fez curso de cabeleireira gratuito na Paróquia, de corte e costura , manicure e até de inglês.
Um dia Marinho havia dito em seus olhos que não lhe amava e com certeza, engoliria cada palavra.E se não fosse, tudo bem.Que vivesse a sua vida!Outros lhe dariam valor porque o mundo não se resumia nos encantos de MA-RI-NHO .
Estava apenas lhe dando uma chance para que lhe conhecesse melhor.O bonitão ficava em cima do muro esperando que Jussara corresse atrás, mas não ela não correu nem atrás e nem na frente!Correu em busca daquilo que acreditava: em si mesma.
Investiu na sua vida profissional e em pouco tempo conseguiu montar o seu próprio negócio: um salãozinho de beleza na garagem de casa. Agora andava com roupa da moda, embonecada, com o cabelo sempre feito e a cabeça também.
Às vezes se encontravam na correria do dia a dia; almoçavam juntos e batiam papo.Jussara falava de tudo um pouco.
Sabia sobre economia, horóscopo, saúde. Sabia também como conquistar, encantar e amarrar um homem como ninguém! Fingia nem ligar para as investidas de Marinho e sua vida profissional estava, junto com Maria, em primeiro lugar.
Que surpresa! Aquela não era a mesma Jussara que conheceu: maravilhosa, dinâmica, nota Mil.
Marinho começou a redescobrir aquela mulher.Queria de volta o que havia perdido, aliás, o que nunca encontrou. Pronto, tudo mudou.Agora era ele que babava em cima de Jussara.
Começou a fazer de tudo para chamar a sua atenção, entrando de sócio no Salão de beleza apenas para dar o bote .Agora eram amigos, companheiros, cúmplices ...
Numa noite, enquanto Jussara contava uma história para Maria dormir percebeu que um homem apaixonado estava lhe observando.Um par de olhos que refletia de dentro para fora tudo que passava no seu interior.
E diante dos olhos de Jussara, Marinho suspirou:
- Eu sempre te amei ...e não sabia.
Não precisou dizer mais nada, lhe cobrindo de beijos. Os olhos não mentem jamais porque não conseguem disfarçar a verdadeira linguagem do AMOR.


Silmara Retti

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