domingo, 12 de julho de 2009

ROXA DE CIÚMES




















Na boca do povo ciúmes é prova de amor, daquele fulminante, esvoaçaste e ruminante ! Tem que sacudir as tamancas, fazer escândalo, esverdear de raiva ...para depois acabar em pizza .Pizza na cama!
Quanto mais, melhor .Valdete que o diga, pobrezinha! Era um deslumbrado na cola de Jair .
Não comia, não bebia, não vivia , fazendo o maior Cooper atrás do homem amado, o mais charmoso e cheiroso do mundo .Um homem tão chique que até cegava as vistas de quem tentasse encarar o bicho de frente .
Ê Jair, feio que dói ! Mas fazer o quê se debulhava corações com sua boquinha murcha com um dentinho de alho pendurado ? Usava um tapetinho tingido de loiro e tinha um jeito de malandro encantador , fazendo Valdete se esbugalhar em lágrimas de paixão .
O boneco era bicho solto, livre e piriricava em cada boteco com seu bico doce do caramba ! Cantava todas e mamava tudo o que tinha, sempre no gargalho da garrafa, fazendo charminho com os olhos, de lá para cá, a procura de um rabo de saia .Mas Valdete estava na sua lista negra, no banco de reservas, é claro .Só que na falta de qualquer titular poderia se aquecer gostoso nos braços de Jair, que corrias pra galera, fazendo festa .Porém os seus dias de glória estavam contados porque se casaria no próximo mês e a cidade inteira sabia dói seu futuro “enlace matrimonial”, menos ele .
Alguns achavam o máximo :
- É isto mesmo, dá-lhe Jair !
Já outros espiavam desconfiados a rapidez daquele casamento, sem pé e sem cabeça .O casamento de Valdete e Jair . Na verdade eles mal se conheciam, só que a bonitona armou um plano para abocanhar de vez o artista do pedaço .
Seria a mais competente de todas, a melhor das concorrentes, a super escrava, engraxando os seus sapatos, esfregando as suas costelas e se atirando no chão para que pudesse passar por cima .E deu certo!
Como era sozinho no mundo, sem um compromisso sério com ninguém, resolveu arrastar aquela tonta para morar com ele no seu mocó, que pelo menos assim ficaria brilhando as suas custas .
Jair passava a noite na gandaia e aparecia junto com o nascer do sol, todo amassado e cheirando a colônia feminina .
- Safado ! Assim era de matar !
E só sobrava para Valdete o farelo de Jair .O pó tosquiado do seu corpinho abatido de tanto ciscar em outro galinheiro .E Valdete se dizia roxa de ciúmes, rasgando sua camisa ao meio .
Mas nenhum e nem o outro largava o osso .Ele por precisar dos seus préstimos de domésticas e ela por precisar do seu amor .AMOR de patrão .
As pessoas admiravam tamanha devoção, medida por seu ciúmes infernal .
Que ciúmes era aquele, meu DEUS ! Acho mesmo que isto tinha outro nome : palhaçada .Falta de respeito consigo mesma .
Valdete nunca olhou no espelho e se deu aquele valor.
Lógico, nem tinha tempo para tanto !
Mal conseguia pendurar um grampo no cucoruco, porque passava a manhã inteira procurando nos bolsos de Jair bilhetinhos de amor, endereço de alguma perua , alguma foto ...E achou, justamente uma foto da perua com o seu Peru .
Que ódio de Jair ! Valdete pensou em se matar, se pendurar de cabeça para baixo no poste, de se enterrar viva ...Ainda mais que era uma fulaninha sem classe ; que não chegava aos pés dourados do bonitão .Só podia ser macumba !
A primeira coisa que pensou foi em procurar um Pai de Santo para desfazer aquele trabalho ridículo ...Já estava saindo de casa com uma galinha preta debaixo do sovaco, quando resolveu ir até a penteadeira para pegar um “santinho” protetor e deu de cara com sua cara .Parou um minuto e não reconheceu ali a velha Valdete de antes .
Credo, parecia uma bruxa .
Relaxada, desmazelada,acabada ! Na verdade era um pano e chão .Puxou o banquinho, pasma de terror e foi, pouco a pouco, caindo para trás .
Jair miserável ! Olha só o que aquele traste havia feito com ela ...Mas Jair só fez o que ela o permitiu fazer .Nenhum homem merece ser o causador deste tipo de destruição e ponto final .
Quem tava amarrada, era ela .Porque quem gosta da gente é a gente mesmo .E se algum vudu disser o contrário, é urucubaca das bravas .
Que Pai de Santo, que nada ! Valdete rodou a sua própria baiana, jogou um sal grosso na foto do falecido e agora Jair teve que cantar pra subir ... e sumir ! Sem choro e sem vela .Deixou o terreiro limpo e aberto para que Valdete pudesse semear a sua auto- estima e colher os frutos de um novo amor .O amor próprio !

Silmara Retti

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