sábado, 6 de junho de 2009

Bodas de Prata


Muitas vezes 25 anos de casamento é um porre no capricho, principalmente quando não existe mais afinidade alguma entre o casal, como a tolerância, o romantismo e acima de tudo aquela amizade gostosa que é a base de um grande amor.
O companheiro precisa ser o seu confidente de todas as horas, o seu melhor amigo e inimigo também...Aquela pedrinha no sapato que nos transforma, nos educa e nos envolve em novas emoções.
Que enche a vida de prazer, enchendo o saco!
Foi assim que Seu Maneco acordou um dia com a pá virada, mirando de frente toda a cafonice explícita de Zulmira e quase morreu de susto.
Meu Deus, como havia conseguido digerir aquela marmita fria durante 25 anos, sem ter uma congestão fulminante?!
Aquela mala sem alça que se arrastava pela casa feito um bigato, um piolho de cobra, uma formiga assassina... Aquela mulher que só trocava o pijama quando ia fazer o exame de fezes na cidade, estava lhe causando enjôos.
Ele não merecia ser enterrado vivo com um “vudu”, porque ainda sentia que era um meninão em plena adolescência e na flor da idade.
Mas que idade era esta que Seu Maneco escondia feito um segredo de Estado, a sete chaves, dentro do cofre?
- Não interessa - dizia ele.- Mistérios.
O que importa a idade se ainda usava um talquinho de polvilho nas assaduras, nas dobrinhas e no bumbum?
Era um bebe inocente, com dois fiapos de cabelo muito bem engomados numa chuquinha e sem os dentinhos da frente.
E mesmo assim queria colo, carinho e principalmente sexo!
Impossível, pois Zulmira era uma beata de carteirinha e casada somente com a religião.Não tinha boi e ele não queria mais papo.
Lamentável que demorou tanto tempo para perceber que não tinham mais na-da em comum.Na verdade queria uma mulher fogosa, que lhe oferecesse noites de imenso prazer.
Coisas que a finada Zulmira não conhecia mais.
Que morresse de catapora, pois no quinto dia útil do mês receberia a aposentadoria e than-than-than -than .Um novo homem voltaria a atacar, aberto para a vida, para o mundo e para os prazeres da carne, ressurgindo das trevas com sua sunga cintilante super potente, óculos espelhados (com retrovisor) e celular atômico pendurado na cintura.Tudo isto para o cooper leve na praia .
Não tinha quem não reparasse e Maneco se sentia o máximo, envergonhando de vez a pobre Zulmira, que se apegava no terço com muita fé para que aquele picareta levasse um castigo bem merecido.
Ele jogava xaveco, beijos, charme!
Nem bem clareava o dia e ele estava lá apenas para impressionar a mulherada.Começou a ser conhecido como o tarado da praia e para ele era um elogio, porque na verdade não tinha jeito que desse jeito.Para ressuscitar o falecido, só uma reza brava!
Até que avistou um mulherão desfilar pelas areias num rebolado sinfônico que bateu direto no seu coração.
Quem seria aquela diva do silicone?
Quando ela piscou um olho quase caiu duro de felicidade!
Todas as manhãs os dois se encontravam e Seu Maneco dizia ser um turista milionário que jogava conversa fora com o sorveteiro somente para refrescar a cabeça.
Ele nunca imaginou que fosse tão fácil conquistar uma mulher.
Mas qualquer cego poderia ver que aquele gorilão era um big de um travesti, mas os óculos fosforescentes de Seu Maneco estavam embaçados e ele nem percebeu a diferença entre conhaque de alcatrão com rolha de canhão.Foi fundo no pote!
Zulmira nunca mais viu nem fumaça e diziam as más línguas que os dois pombinhos estavam noivos.Muito tempo se passou e um belo dia, numa manhã de sol, enquanto Zulmira ia para a missa dominical, avistou de longe um casal no maior dos Love .Leila Michelli continuava o mesmo armário embutido de sempre e Seu Maneco sorria, um tanto abatido, meio “amuado”.E se alguém lhe perguntava sobre “aquilo”, ele se fazia de bobo, mudando logo de assunto.
- Aquilo o quê?! Não estou entendendo. – disfarçava.- Leila é uma mulher maravilhosa e me faz muito feliz.
Estava em lua de mel com sua noivinha cabeluda.E Zulmira não se agüentava de tanto rir, porque nunca botou tanta fé que Seu Maneco fosse ter um castigo tão rápido, levando “aquele” ferro que somente ele conhecia muito bem.

Silmara Torres Retti -

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