sexta-feira, 12 de junho de 2009

Minha VIDA

Nada neste mundo é realmente nosso, de papel passado e firma reconhecida, porque do mesmo modo que se vem; se vai: nu com a mão no bolso, carregando como bagagem somente aquilo que cativos dentro de nós.Mas Seu AUGUSTO nunca pensou assim...Era grudado carne e unha com todos os seus apetrechos, dizendo com a boca cheia de orgulho:
- Esta é a minha família, a minha casa e a minha propriedade.
Que soberbo! Pois era um deus do Trovão, Rei do Mocó e Dono do Mundo.Não se permitia viver nada diferente, com muito medo de abalar o seu cotidiano, já conquistado durante anos de mesmice.
Nunca apostou em mudanças; em buscar novos horizontes, abrindo espaço para outros conceitos modernos, que desafiam os velhos tabus enraizados ao nosso redor...
Seu Augusto não tinha outras estas perspectivas, vegetando no mesmo lugar desde a época dos dinossauros.Não se atrevia em possuir outros valores porque tinha medo de cair do Trono, com uma mão na frente e a outra atrás.
Montou uma branca de jornal na Praça da Igreja e durante anos fez aquele trajeto; de casa para o serviço, envelhecendo com suas revistas antigas que não davam Ibope para ninguém.
- Deixa quieto!- pensava.
Sentia-se ressabiado só de pensar que tudo poderia ser diferente. Não se dava bem com a própria mulher e mal se olhavam na cara.
- Deixa pra lá! - resmungava.
Não queria mudar nada.Tinha medo de ser feliz!
Levava a vida assim, nos conformes.Se as coisas não iam bem, paciência.Pelo menos tinha demarcado o seu território e ali dentro, cantava de galo.Às vezes nós também somos assim e nos prendemos a um monte de quinquilharias que são ultrapassadas e que apenas criam teias de aranha em nossas cabeças.
Seu Augusto achava que o mundinho cor de rosa que havia criado fosse para sempre.Tudo estava ali, perfeitamente dominado e em harmonia absoluta com sua vontade suprema.
Diariamente abria e fechava a banca, tomava uma cervejinha gelada e dormia na rede da varanda.
Sonho não tinha nenhum e não desejava nada de novo
Já tinha uma mulher e também uma vida inteira que passou em branco e preto e isto lhe deixava muito satisfeito.Mas a gente não nasce neste mundo para ficar apenas satisfeito!
Seu AUGUSTO foi vivendo assim assado, meio de banda; às vezes bufava daqui, dali...Achava que nunca teve sorte.Na verdade ele não soube buscar.Já não era mais nenhum mocinho e sentia que estava por um fio.Então colocou a cama debaixo da janela e ficou de molho durante anos, esperando que tudo se consumisse.
Ficou muito mais morto do que vivo, chamando para si a “dita cuja”. Reuniram todos os seus pertences mais valiosos dentro de uma mala velha, mandou engomar o seu melhor terno e deixou o padre de sobre aviso.A sua vida inteira se resumia naqueles bens materiais: relógio importado, contas pagas, roupas de marca...
De repente numa madrugada “daquelas”, acordou com alguém lhe surrando no ouvido uma história: a sua História de Vida.
Era um enredo sonso e sem emoções.Este alguém estava ao seu lado, segurando-lhe as mãos.
Ele abriu a cortina com a ponta dos dedos, deixando que a luz do dia pudesse penetrar no quarto.
Lá fora uma nova cidade brilhava diante dos olhos de seu Augusto. Era uma cidade diferente que despontava no horizonte, lhe convidando para uma outra Jornada.E Seu Augusto se foi, deixando seus pertences para trás. Já estava na hora de se renovar, sem medo de ser feliz, garantindo para si uma viagem prazerosa que lhe transformaria num viajante corajoso e incansável a procura de um Mundo Melhor.


Silmara Retti

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