sábado, 6 de junho de 2009

Baby, meu filho



A gente nasce, cresce e se multiplica, mas quando tem o primeiro filho é como se fossemos o dono exclusivo do seu caminho, dos seus dias e do seu destino.E foi exatamente assim que aconteceu com Hilda.
Quando o seu filhote já tinha completado treze anos de idade, ainda lhe chamava por BABY, lhe protegendo a todo custo da realidade da vida.
Papai Noel nunca falhou um só ano e jurava de pés juntos que as criancinhas vinham da cegonha, fazendo com que Baby não se conformasse que a mãe poderia ser tão ingênua assim .
Hilda exigia que Baby fosse sua continuação, apostando todas as fichas no seu desempenho para que fosse feliz.
Quem ficaria feliz? O filho ou a mãe? Porque às vezes a felicidade de um não é a do outro. Cada pessoa tem o seu próprio ideal, o seu sonho e a sua maneira de viver.
Baby não queria ser assim ou assado.Precisava escolher as suas roupas, os seus amigos e ser respeitado por isto.Um filho não é um xerox bem feito; é um conjunto de idéias que formam uma personalidade com o direito de optar, se enganar e recomeçar!
A mãezona não lhe deixava respirar sossegado, levando Baby aprisionado pela coleira.Tinha a liberdade de ser o que quisesse, desde que fosse um médico famoso e casadíssimo com uma mulher virtuosa, prontinha para procriar.Mas só de tocar neste assunto Baby se arrepiava todo, pensando com os seus botões:
- Mamy, sem estresse! Desta praia, eu tenho alergias.
E na verdade qual era a sua praia? A sua praia era aquela que lhe deixava louco com tanto bumbum desfilando pra lá e pra cá.Bumbum bronzeado, empinado e principalmente cabeludo.
O que?! Isto mesmo. Este segredo não era mais tão sigiloso assim, pois a cidade inteira sabia que o Poderoso da Mamãe era a Rainha do Baile da Primavera.Mas Baby não conseguia ser feliz deste jeito e morria de medo que fosse considerado uma decepção para dona Hilda, que sonhava acordada com um futuro brilhante , digno de um “verdadeiro homem” .
Baby levava a sua vida na maior dignidade, sendo um exemplo para todos.Era o melhor amigo de qualquer um que precisasse de um apoio.Nunca negou um sorriso, um abraço ou um conforto. Mas mesmo assim lhe cobravam com os olhos, esperando que um dia acordasse muito mais homem; falando grosso e “galinhando” à vontade.
Então Baby preferiu não magoar a mãe, que de nada sabia, e numa noite qualquer foi embora para bem longe dali, deixando uma carta na cabeceira da cama.Nela estava escrito sobre o grande amor que sentia por todos, da sua história de vida e do caminho que havia escolhido para si próprio, porque somente desta forma seria feliz.
Hilda quase morreu do coração! Sentiu-se traída, fraca e sem forças para lutar contra a escolha de Baby, que pela primeira vez, mostrou que era dono exclusivo de seu destino.
Ela começou a ficar triste e se dizia a mãe mais infeliz do mundo por ter perdido o seu filho amado.Acreditava que o destino havia lhe pregado uma peça, não se conformando com aquele desfecho trágico.
Dona Hilda passou anos sem ter notícias de seu paradeiro, mas sempre com os olhos perdidos no horizonte, esperançosa do seu regresso.
Ela estava só com as suas lembranças, totalmente dividida entre o preconceito e o grande amor que sentia por ele.
Abraçou junto ao peito algumas fotos antigas e a sua vida foi passando como um filme diante de seus olhos.Ele era uma pessoa repleta de qualidades e simpatia.Todos da redondeza conheciam Baby por seu carisma e a sua alegria de viver.
- Que falta você me faz, meu querido!
De repente percebeu que alguns passos se aproximaram e com a voz emocionada chamou por Baby, deixando todos os seus preconceitos do lado de fora do quarto.
- Entra, meu filho.Volta pra mim!
Baby abriu a porta, sorrindo.Jogou a mochila no chão, lhe cobrindo de beijos.Tinham muito que conversar, compreender e aprender.Ali estava o seu filho querido, digno de todo o seu respeito . Porque muito mais que homem ou mulher, BABY era gente de corpo e alma e desta vez ela lhe prenderia em seus braços para que não fosse embora nunca mais.

Silmara Retti

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