sexta-feira, 12 de junho de 2009

O Menininho do Papai



Denilson era o garotinho do papai, correndo feito um louco de lá para cá atrás de uma pipa colorida para a sua coleção enfileirada no canto da sala.Só sabia falar em futebol, jogo de taco e prancha de surf.Pelada só se fosse no campinho da praia!
Achava todas as meninas fofoqueiras e mulher bonita ainda era a sua própria mãe.Que bobo! Mas é que não passava de um moleque atarefado com sua vidinha agitada, metendo bicuda em qualquer um que tirasse um sarro do seu corpo desengonçado como uma tripa seca.E para ajudar tamanha esquisitice tinha um quilo de espinhas avermelhadas no meio da cara e isto lhe deixava fulo da vida!
Sua voz engrossava e afinava, de repente.
Diziam as más línguas que estava ficando moço.Ah, não.Isto não! Ser moço não é tão gostoso como ser criança...Trepar no muro, fazer traquinagem pela rua e depois sair fora com o peito estufado como o próprio dono do mundo.Não queria crescer, nem morto!
Denílson já era uma vareta e não tinha compromisso com nada, vivendo livre, leve e solto. A vizinhança começava a reparar que estava ficando fininho e muito alto.Um “cavalão”, isto sim.Era o que falavam quando viam o moçoilo empoleirado na laje, de ceroula rasgada no meio da bunda, em plena segunda-feira cedo.Tinha apenas quinze anos e sua mãe lhe chamava por “bebê” todas as vezes que servia o seu mingau de aveia no prato, com rodelas de banana.Porém seu Vicente já pensava diferente e começou a reparar melhor no tamanho do marmanjo, que insistia em andar com a molecada do bairro pendurada no cangote.
Aquele “pirulão” de quase dois metros de altura se comportava como se ainda fosse um garotinho do papai e assim a casa caiu.Denílson não tinha mais clima para ficar numa boa, fazendo o que sempre gostou: nada.Agora tava na mira de seu Vicente, que só de tocaia, matutava um plano de fazer uma surpresa para o meninão.
Para sua filha mais nova sobrou à louça no canto da pia, o chão para esfregar, a aula de corte e costura.
Já para Denílson sobraram as revistinhas de sacanagem, que o próprio pai comprava; os filmes de vídeo erótico e uma rápida explicação simbólica de como deveria ser a sua primeira noite de amor .
- Pai, eu ainda nem me apaixonei...
Que bobo! Paixão é pura bobagem.Seria apenas um momento de raro prazer com finalidades suculentas de molhar o biscoito.
Denílson quase morreu do coração.Ainda nem pensava nessas coisas...Queria curtir a molecada um pouco mais, a farra de domingo com o Celsinho, o Nabor, o Cleber...E nenhuma mulher era tão engraçada feito sua turma. Eles topavam todas e se divertiam para valer.
Cada pessoa tem o seu tempo e tudo tem a sua hora.Para Denílson, ainda era cedo demais.Só que Seu Vicente começou a pegar pesado e exigia produção.Nunca havia lhe explicado sobre o Amor, até mesmo sobre sexo, mas sabia de cor todos os palavrões que achava o máximo na boca de um “homem”, empurrando para o filho um pacote de sacanagens que queria que colocasse em prática.
Denílson se sentia envergonhado com isto...Não queria que fosse assim.Tudo bem que já era um rapaz, só que estava confuso.Até ontem brincava de pega - pega e agora queriam que ele arrastasse qualquer menina para um canto qualquer.Como é difícil ser homem deste jeito!
Ele precisava ser respeitado também e não sabia como explicar para o pai que ainda não era o seu momento.Sua cabeça girava a mil por hora!
Seu Vicente fazia questão em patrocinar o melhor presente de aniversário de sua vida: uma bonitona bem produzida que pudesse dar a Denílson as primeiras dicas sobre “aquilo”.
Somente assim seria batizado no clube do Bolinha, onde homem que é homem, sai por ai apavorando a mulherada .Que sufoco!
Denílson não tinha mais sossego na vida e o pai parecia um vudu na sua cola.Poderia ter sido uma data muito especial se o ridículo não tivesse lhe preparado uma armadilha daquelas.
Ele não se cabia de tanta felicidade! Contratou uma garota de programa para fazer a festa com o pobre garoto, que na sua santa inocência nem desconfiava de nada.Há um bom tempo já estava de olho numa menininha ali da rua mesmo e sentia que alguma coisa dele tinha mudado.Talvez estivesse até apaixonado e queria mesmo ter bastante coragem para chegar junto.Tentou pedir conselhos para o pai, mas com certeza ele acharia tudo bobagem.
“Namorico assim não rende nada e o gostoso seria uma mulher mais velha e experiente”.
É que Seu Vicente sempre foi uma pessoa rude, maltratada por seus próprios pensamentos, sem acreditar que um homem também pode ser sensível e capaz de ter suas próprias vontades.Porque homens são homens e nem por isto precisam provar alguma coisa a alguém.
Então Seu Vicente puxou Denílson para o canto da rua lhe apresentando a sua primeira mulher.Ele não teve palavras. Olhou bem para aquela desconhecida, para o seu rosto pintado e o seu corpo desnudo, percebendo que não queria ir com ela para nenhum lugar.
- Que babaca!- resmungou o pai.
Denílson compreendeu que aquele homem pouco conhecia sobre relacionamento a dois, intimidade e principalmente sobre mulher.
O sexo não é uma simples brincadeira que depois lava o brinquedinho, e pronto! Denílson se desculpou dizendo que já tinha outros planos para aquela noite. E disse NÃO.
- Não, eu não quero que seja assim!
Ele virou as costas e foi para a sorveteria com a galera da rua.Denílson mostrou a si mesmo que era muito mais que um “homem”.Era humano e tinha o direito de escolher o seu próprio caminho, o seu destino e o seu momento de AMOR!

Silmara Retti -

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