domingo, 21 de junho de 2009

A grande final



Numa cidadezinha do interior existia um bandido destemido, ousado e muito petulante que desde moleque já gostava de matar passarinho com o bodoque. Roubava os varais de roupa e as galinhas da vizinhança na maior cara de pau. Nunca gostou de trabalhar, preferindo viver as custas de uma pobre tia costureira.
Quando Gogó sentava pracinha da igreja para jogar truco o chão tremia porque ele apostava até a roupa do corpo e não saia dali enquanto não acabasse com o seu último tostão furado.
Já perdeu a bicicleta, o par de tênis e penhorou a geladeira que era do padrasto.A sua fama difamada cresceu depois que declarava, a com boca cheia de orgulho, que havia virado um Matador de Aluguel e para formar uma equipe de trabalho conceituada convidou seus primos Pedro e Tadeu.
Agora Gogó só andava de terninho cintilante pra cima e pra baixo com o pescoço cheio de badulaques dourados.A cidade tremia todas as vezes que desfilavam pela avenida principal provocando as pessoas com uma espingarda velha.
Gogó não parou por ai! Queria muito mais e começou a fazer justiça com as próprias mãos, comparecendo depois nos velórios com toda a sua ironia, rindo do acontecido.E ninguém podia fazer nada de puro medo!
No meio da noite mandava a pobre viúva embora, ordenando que Pedro e Tadeu tocassem sanfona no maior forró do mundo! Arrumava uma mesinha no canto da sala e clareava o dia jogando truco do lado do falecido, que não podia nem reclamar do barulho!
Mas um dia o inesperado aconteceu...
Gogó já tinha bebido bastante e cismou que o primo Tadeu estava roubando no jogo.Achou que tivesse escondido uma carta dentro da manga da camisa e armou um TERERÊ danado! Não quis nem conversa fiada e como se achava o mais poderoso do lugar, resolveu dar um fim na esperteza de Tadeu, lhe apagando com um tiro certeiro.
Quanta frieza!A cidade inteira compareceu ao velório de Tadeu, inclusive Gogó, que era o mais elegante de todos.
Ele fez questão de colocar seu terno de linho modelo inverno, ordenando que Pedro tocasse na sanfona, as músicas preferidas do defunto.
Enquanto consumia um big charuto importado, Gogó foi até o falecido pedindo a atenção de todos para o seu discurso emocionado.Falou horrores do primo Tadeu, se escancarando de tanto rir.
Ninguém ousava se mexer.Estavam todos pasmos de pavor.
Ainda cheio de ironia ordenou que o falecido lhe servisse uma bebida quente, porque o forró já estava para começar.
- Pobre Tadeu, não está se sentindo muito bem hoje.Não consegue nem se levantar do lugar! – e babava de tanto rir.
De repente o defunto sorri, um pouco pálido e mexe a boquinha, se desculpando:
- Infelizmente esta noite eu não posso me cansar porque já tenho outro compromisso, querido. Vou jogar truco no cemitério da cidade, e você Gogó, foi convidado para ser o meu parceiro!
Nisso Gogó não acreditou.Quase engoliu o charuto de uma só vez, dando piruetas no ar. Caiu duro ali mesmo e morreu de puro susto, com as cartas nas mãos.As pessoas pulavam de alegria, soltando fogos de artifício e pagando mil promessas.A algazarra foi tanta que o prefeito precisou decretar feriado municipal e desta vez o forró foi muito mais animado, porque toda a cidade estava em festa, comemorando a Grande final do Campeonato de Truco.


Silmara Retti

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