sábado, 6 de junho de 2009

Dona do Destino


- Um filho é a continuação de um corpo, de uma alma e de um sonho.
Claro que não! Cada um tem o seu próprio caminho e merece ser respeitado por isto. É preciso orientá-los, nada mais.
Depois a história muda e somos apenas patrocinadores de seus investimentos.
Foi exatamente assim que aconteceu com Isadora Michelly, pois era filha única e a verdadeira dona do mundo.
Exigia colo, carinho e mimos que dona Sônia procurava sempre ofertar, facilitando a vida de sua princesinha que com o tempo também queria dinheiro.Muito dinheiro! Ela foi lhe dando um caminhão de frescuras e do portão de casa para dentro, Isadora Michelly imperava.Nunca ouviu a palavra “nunca”. Nada de sol ou de vento.Amiguinhas, nem pensar porque já tinha uma babá.Por ironia do destino vivia doente, mas mesmo assim era o orgulho da mamy e seu futuro brilhante já estava determinado:
- Arquiteta, juíza ou pianista.Talvez Primeira Dama do país!
Qualquer profissão que lhe deixasse muito mais poderosa do que já era.
Não trabalharia, pois a mamãe trabalhava por ela.
Não teria problemas e o seu mundo era dourado!
Dona Sônia dizia ter combinado tudo com Deus e a vida da mocinha já estava traçada, não percebendo que os filhos também têm o direito de escolher o seu trajeto, pois assim caminha a humanidade!
Errar faz parte do recomeçar e foi com grande surpresa que dona Sônia viu sua bonequinha gritar alto e em bom som que:
- Faculdade era um porre. Curso de inglês, nem morta! Viagem cultural era mania de gente velha. O must da moda era ser bicho grilo e pronto!
Dona Sônia quase empacotou e só pode abaixar a cabeça, morta para o mundo.Isadora Michelly agora tava na dela, totalmente relax.
- Justo ela que tinha de tudo.- comentavam.
Isto mesmo, ter de tudo nem sempre dá consistência para a personalidade de alguém.E de personalidade em personalidade, num lual muito louco, a beira da praia, a mocinha conheceu o grande amor de sua vida: Bob Barney.Ele veio do nada, trazido pelo vento, sem lenço e documento .
O cabelo parecia uma peruca da boneca Barbie e tinha tatuagem até no buraco do olho.Foi chocante e os dois curtiram o maior love!
Que decepção para dona Sônia, que desde a partida da filha amada, trancou o quarto cor-de-rosa com sete chaves, enquanto ela preferia mesmo dividir uma canga peruana nas areias da praia da Fazenda , em Ubatuba . Mas e o celular, o computador, o carro novo?
- TUDO BAIXO ASTRAL, MAMY!O bacana era o som que Bob Barney tirava do violão, na pracinha da Matriz.
Desta maneira tinham se amarrado para sempre.Não queria ser nenhuma capitalista alienada e seu maior sonho era vender incenso na feira hippie.
- Assim era demais! Pra mim chega.Ou eu, ou ele.- ordenava a mãe.
E ela o escolheu.Dona Sônia quase pirou e resolveu lhe esquecer, fazendo um cruzeiro marítimo para a Europa.
Não queria vê-la nunca mais, se transformando em uma mulher amarga e brigada com a vida.
Mas um filho não se perde desta forma e num desses desencontros da vida, enquanto dona Sônia passeava na avenida da praia do Cruzeiro, ouviu uma gargalhada gostosa de uma criança feliz, refletindo a mesma alegria da mãe, que vendia artesanato numa cesta de palha.
- Como são felizes! – pensou, sem se dar conta da realidade.
Quando percebeu, estava diante de “sua menininha” e não pode conter a emoção aprisionada durante anos de pura saudade.
Elas se olharam, se encontraram e se abraçaram sem dizer nada.
Era Isadora Michelly que estava ali com a sua família, aprendendo a caminhar com seus próprios pés.Às vezes tropeçando, outras caindo.Mas acima de tudo orgulhosa por ter tido a audácia de investir em tudo aquilo que realmente acreditava! Porque a felicidade não mora ao lado ou na casa do nosso vizinho. Ela está dentro de cada um de nós!


SILMARA TORRES RETTI

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