sábado, 6 de junho de 2009

Dona Margarida


Um gesto de carinho tem o dom de curar, renovar e enobrecer qualquer um que esteja caído, triste ou doente. Basta ter um toque de mãos mágicas e thanthanthanthan...A beleza cria vida e se expande ao redor, enfeitando o mundo.
Porque era uma vez um jardim florido e luxuoso que só tinha plantas de categoria, obedecendo a uma lei de inquilinato rigorosa e cheia de diplomacia; flor murcha, bichada e que não rendesse coisa boa...tava fora. Se a coitada fosse velha, feia e caída, não tinha vez. “Que ela arrumasse a sua mala e fosse morar em outra freguesia”.
Assim aquele espaço enorme de área verde possuía apenas as plantas mais bonitas, exuberantes e requintadas, sendo exibidas a todo custo em troca de elogios emocionados das madames que desfilavam sem parar. Corriam os olhos, sapeando o que enxergavam de melhor e todos os dias o jardineiro fazia a faxina no ambiente.
Até que deu de cara com a cara minguada de Margarida, uma das mais novas moradoras, tentando se destacar das outras.
Tibúrcio ficou pasmo diante de sua pretensão em querer mostrar aquilo que não era, nunca foi e jamais seria; ou seja, uma planta rara.Nisso começou o falatório no quarteirão e as más línguas comentavam sem parar a audácia de Margarida, que insistia em ficar por ali mesmo.
Na verdade nem ela mesma sabia explicar como havia surgido num lugar tão fino e delicado.
Era simples, humilde e de nome comum: Margarida!
Mas não encontrava um clima para crescer e se dar bem.Todos os dias ela era discriminada, ignorada e simplesmente isolada do mundo. E qual o motivo desse desprezo, hein?
Margarida não fazia parte da sociedade poderosa daquele jardim. Sendo assim foi ficando doente, triste e feia. Não tinha forças pra reagir, pois não se sentia amada.
O jardineiro só pensava num jeito de lhe arrancar até a raiz, embora ela já estivesse morrendo a cada dia por falta de carinho. Rodopiou de um lado ao outro e pum, desmaiando de solidão!
De repente uma criança surgiu do nada, fugindo da própria mãe, num corre-corre danado e tropeçando numa das pedras caiu de boca na pobre Margarida, que dava o seu suspiro final.
Só que crianças são crianças e dentro de seus corações não existe território de luxo, elite ou riqueza.Elas gostam por gostar.
Acham bonito e pronto.E foi exatamente isto que Eduardinho caiu aos pés de Margarida, fascinado com seu jeito simples.Tocou-lhe com os dedos cheios de carinho, querendo muito que vivesse, colorindo os olhos de emoção por estar diante de uma obra perfeita de Deus. Naquele momento o tempo parou...Suas pétalas se abriram num sorriso de alegria, talvez agradecida por um gesto de encanto que fez com que renascesse ainda mais bonita.
Eduardinho passou a visitar Margarida todas as vezes que voltava do colégio, conversando com ela como que se fosse a sua melhor amiga.A melhor de todas, porque não estava naquele imenso e luxuoso jardim por acaso.Estava ali por ser, de coração, a mais sublime expressão de VIDA, garantindo com humildade e beleza seu lugar de imenso valor!


SILMARA TORRES RETTI

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