domingo, 21 de junho de 2009

O crime imperfeito





Tudo começou quando Lurdinha se esparramou no chão da varanda com uma caneca de suco geladinho, só de olho no movimento ao redor .De repente uma formiga foi se aproximando e a menina só não cultucou suas perninhas com um palito de fósforo porque conseguiu escapar desesperadamente, como que se quisesse muito viver .Ficaram se encarando por instantes e ela tinha uma voz chorosa e cheia de mágoa:
- Por que tanta maldade, garota? Também sou proprietária desta casa e mereço todo o respeito do mundo .Moro no açucareiro lá da pia há muito tempo e nunca lhe agredi , apesar de perdemos vizinhos e amigos diariamente vítimas da violência humana .Eu mesma já fiquei viúva várias vezes e ontem perdi um companheiro afogado na xícara de chá . Era um formigo honesto e trabalhador, dedicado à família .Ele saiu logo cedo para o sustento do próprio lar quando de repente foi atacado por uma mão gorda. Ela grudou o pescoço de Aluísio e deu um safanão em suas costelas raquíticas .Justo ele que sofria de bico de papagaio desde criancinha! A nossa equipe de resgate se mobilizou toda só para capturar o vitimado, porém seu corpinho flácido foi mergulhado várias vezes dentro da xícara fervendo e a criminosa ainda teve a audácia de pinicar o defunto com a ponta da unha ...
Os humanos se julgam superiores em toda a sua inteligência “racional”, porém ainda massacram companheiros pequenos que também possuem o mesmo direito de viver ! Deveriam ter mais respeito com seus semelhantes, de qualquer forma e tamanho, pois são obras do mesmo Pai , que os criou neste caminho evolutivo .Não queremos optar pela violência . Precisamos que a violência opte pelo nosso corpo transbordando paz .
Lurdinha abaixou os olhos muito envergonhada . Quantas vezes teria violado a natureza simplesmente por se sentir dona dela ou por se achar poderosa o bastante para ter o direito de destruir o que na verdade jamais saberia criar !
-Se os humanos soubessem respeitar as pequeninas coisas que os cercam, conseguiriam valorizar muito mais as grandiosidades que os interiorizam .- sorriu a formiga, num gesto carinhoso.
E a partir daquele dia Lurdinha passou a absorver para si os ensinamentos daquela simples formiga falante , enxergando com os olhos da alma a perfeição da Natureza Divina,pois nós humanos não somos donos do mundo; apenas fazemos parte de um ciclo que se chama VIDA .

Silmara Retti

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