terça-feira, 9 de junho de 2009

Jeito de Amigo


Há muito tempo atrás Moisés nos apresentou um Deus soberanamente severo com suas leis absolutas que causavam muito medo.Depois disto uma nova história nos mostrou através de Jesus Cristo que este Pai é acima de tudo justo, misericordioso e cheio de Amor.
E se o nosso próprio Criador é assim tão amoroso, por que ainda hoje confundimos tirania com educação?
Juliano era um moleque frágil, de olhos tristes e sem o brilho da vida que deixava sua expressão cada vez mais distante.Mas o que tinha esse moleque, hein?
Aliás, o que não tinha Juliano? Respeito.
As pessoas ao seu redor não lhe respeitavam como criança e tudo isto era o motivo de sua tamanha desventura.Não se sentia amado e a cabeça parecia dar um nó diante de tantas incertezas:
- Por que tinha que ser assim?
Talvez porque seu pai já vinha de uma educação antiga, baseada nos rigores da lei, para que não perturbasse os adultos com suas bobeiras infantis.
E Seu Orlando fazia muita questão que ele ficasse amuado num canto para não perturbar o sossego do lar.Um só pio desafinado era o bastante para lhe pregar um cascudo no meio da testa, achando que era o Mestre da Educação e dos bons costumes.
Que isto! Juliano não tinha carinho por ele.Sentia medo.Nunca foram cúmplices em nenhuma brincadeira, companheiros no dia a dia, amigos num papo mais íntimo...
Ninguém dava palpite, acreditando que esta forma de poder era o máximo, pois fazia Juliano se borrar todinho só de palra do pai.
Era satirizado na frente dos outros, humilhado e chamado de o “boboca”.
Cresceu assim, inseguro e carente, fugindo de qualquer enrosco que lhe lembrasse a palavra família.MULHER, só de longe.Crianças? Nem morto.E quando lhe falavam sobre casamento, caia duro de pânico, pois se achava incapaz de dar aquilo que nunca recebeu.
Até que conheceu Bete num curso de computação e logo no início alguma coisa mudou dentro do seu peito.E o que tinha aquela mulher, caramba? Nada de diferente, mas nem por isto era comum.
Quanto mais ela se aproximava, mais ele fugia.
Não queria repetir os mesmos erros do pai e passou a viver de cara amarrada e triste da vida.
Só que não precisamos repetir histórias que não deram ibope.Ao contrário, poderemos transformar a nossa história num exemplo de mudança. Orlando foi um pai que deixou marcas em sua infância e conflitos na personalidade, mas Juliano não precisava ser assim.
Não deu o número do seu telefone para Bete; disse que já era casado e mentiu quando deixou bem claro que vivia com uma tia rabugenta. Porém ela não se fez de rogada, insistindo e investindo naquela figurinha difícil.
Num final de aula deixou em cima do computador de Juliano um bilhete perfumado, com um verso tão profundo que de seus olhos brotou uma lágrima tímida.Foi neste instante que Bete descobriu que embaixo daquela carranca existia um menininho assustado, que precisava apenas de um pouco de carinho. Foi até ele com um sorriso contagiante, pedindo para que Juliano fosse lhe fazer uma visita.
Era uma mulher viúva, com dois filhos pequenos e um cachorrinho miúdo e que moravam numa casa simples, mas muito alegre.Quando Juliano chegou no portão, com o peito explodindo de ansiedade, percebeu que atrás da cortina aquelas crianças lhe aguardavam também, como se ele pudesse lhes trazer alguma coisa de bom: um pacote de bolachas, um saco de balas ou um doce de amendoim? Elas queriam muito mais do que isto.Queriam AMOR!
Queriam todos esses presentinhos que somente Juliano poderia lhes dar, porque conhecia o valor de um simples gesto de carinho.
Não precisava ser um “pai”, se não quisesse.Precisava apenas deixar fluir a sensibilidade escondida no simples desejo de recomeçar.
Desta vez de um jeitinho só seu.Jeito de amigo, capaz de compreender que a verdadeira educação tem como tempero uma palavra mágica que se chama respeito.
Silmara Retti

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